18 de dezembro de 2007

Sítios Arqueológicos

Contexto Regional de Ocupações Humanas
Até o momento são conhecidos 20 sítios na região do vale do rio Juruena, que integra a bacia do rio do Sangue. Destes 20 sítios, 8 correspondem à categoria de líticos lascados (ou seja, sítios que apresentam exclusivamente vestígios em pedra lascada), 8 correspondem à categoria de sítios cerâmicos a céu aberto (ou seja, sítios que apresentam como principal vestígio uma indústria de vasilhas e outros implementos cerâmicos, podendo estar associada a uma indústria lítica lascada e/ou polida), 2 sítios são em abrigo (com gravuras rupestres), 1 sítio corresponde a uma aldeia indígena abandonada em período histórico e outro sítio é histórico, estando representado por um antigo posto telegráfico da Missão Rondon.
Embora certamente correspondendo a uma pequena amostragem do real número de sítios que o vale do Juruena possui (a julgar pelo padrão de ocorrências arqueológicas presente em todo o estado do Mato Grosso, e mesmo do Brasil como um todo), esses 20 sítios indicam que diferentes cenários de ocupação humana se desenvolveram na região ao longo do tempo.

Abrigo do Pilger
Este sítio tem grande potencial científico arqueológico e etno-histórico, uma vez que corresponde a um local de uso simbólico da população indígena Paresi (Robrahn-González 2001).
O abrigo tem 20 m de largura por 15 m de profundidade, com dois “salões” em seu interior, que tornam o ambiente espaçoso e totalmente protegido da chuva e do sol. O solo em seu interior é um sedimento arenoso, seco, pouco perturbado, com vários pequenos blocos caídos do teto. Uma de suas paredes laterais está repleta de inscrições por um trecho de cerca de 9 m de extensão. Os petróglifos saem desde o nível do solo até o teto, que alcança alturas entre 1,7/2,0 m. Porém, os grafismos não se limitam às paredes. Há pelo menos um pequeno bloco no solo, solto, com inscrições.
As manifestações rupestres ocorrem na forma de gravuras feitas a partir da abrasão das friáveis superfícies de arenito do abrigo com auxílio de um objeto mais resistente. As paredes e blocos foram sendo riscados, criando sulcos na forma de desenhos.
A temática básica desses grafismos é de motivos geométricos, resultado da combinação de traços, curvas, círculos, zigue-zagues e pontos, onde foi possível observar a sobreposição dos traços que indicam uma sucessão temporal na elaboração dos grafismos. Entretanto existe também a presença de pelo menos uma figura zoomorfa, que aparenta ser uma víbora, e pelo menos 2 pequenos pés humanos.
Os significados preliminares desses grafismos haviam sido arrolados em etapa de campo anterior e passaram a ser objeto de uma pesquisa desenvolvida por Flavia Moi (2003). Neste primeiro momento, foi possível correlacionar vários desses símbolos com a cultura material dessa etnia. Segundo vários dos informantes Paresi, alguns desses símbolos estariam relacionados a instrumentos de caça: confecção de um cesto de carga de carne, trama de uma cestaria de carga, e trama de um escudo utilizado pelos Paresi para se camuflarem durante a caçada.
No decorrer das prospecções para este trabalho houve uma volta a este abrigo na companhia de Rony Walter Azoinayce Paresi – índio Paresi convidado a visitar o abrigo rupestre. Esse informante, que desconhecia a existência do abrigo e das inscrições rupestres, confirmou os primeiros resultados da pesquisa e reconheceu outros desenhos como estando associados a aspectos imateriais e simbólicos da cultura Paresi.
Entre eles teríamos o “sol nascente” (kamâe), a “escada em que a lua subiu” (takwahidyo), as “pernas de gafanhoto” (ktxitza kano tari) ou o “ombro do urubu” (olohoê-tyakoli). Por fim, teríamos ainda a representação do que seriam grafismos clânicos.